Um e-mail assombra o Palácio Piratini. A mensagem enviada pela presidente demissionária do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Estella Maris Simon, à governadora Yeda Crusius (PSDB) virou a mais nova dor de cabeça para o governo tucano. Jornalistas e oposição reclamam a divulgação do e-mail que apontaria problemas no Detran, com nomes e fatos. Delegada de Polícia, Estella Simon procura se preservar e não divulga o conteúdo do mesmo, temendo represálias talvez. E o Palácio Piratini, mais uma vez, emudece. Fosse um simples comunicado da vontade de sair em função de projetos pessoais, como disse o chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel, não haveria razão para segredo.
Outro episódio nebuloso no caso é a participação do Secretário da Transparência, Carlos Otaviano Brenner de Moraes que, segundo matéria de Adriana Irion, publicada hoje em Zero Hora, enviou um torpedo para Estella Maris Simon, na noite de quinta-feira, pedindo que não fosse rompido o contrato com a empresa Atento, que presta serviço de guincho e depósito para o Detran. O secretário disse que falava em nome da governadora. A delegada pediu que ele enviasse a ordem por escrito, o que não aconteceu. Cabe perguntar: é função de um secretário da Transparência envolver-se na discussão sobre um contrato com uma empresa de guincho? Repete-se, neste caso, uma cena já vista no governo Yeda. Assessores diretos da governadora saem (ou são saídos) do governo por baterem de frente com o núcleo do poder no Piratini. É importante lembrar três episódios deste tipo.
No dia 12 de abril de 2007, Ênio Bacci (PDT) deixou a secretaria de Segurança Pública disparando: “Infelizmente, não tenho mais a confiança da governadora para continuar combatendo o crime organizado no Estado”. Na ocasião, o presidente estadual do PDT, Matheus Schmidt, afirmou: “Venceu a bandidagem”. Bacci deixou o governo fazendo uma série de denúncias que, segundo ele, seriam do conhecimento da governadora: entre outras coisas, falou de vazamento de informações na polícia, envolvimento de policiais com o crime e contratos irregulares na Secretaria de Segurança.
Em outubro de 2008, Mercedes Rodrigues pediu demissão da Secretaria Estadual da Transparência, criada após a onda de escândalos de corrupção no governo. Ao sair, afirmou: "Não há interesse verdadeiro do governo em combater as irregularidades. Que desculpa iremos apresentar quando ocorrer de novo? Não poderemos mais dizer que não sabíamos. Se eu ficasse, estaria avalizando essa situação”.
No dia 1° de abril de 2009, o ex-ouvidor da Secretaria de Segurança Pública, Adão Paiani (demitido por Yeda pelo Diário Oficial) depõe na Comissão de Direitos Humanos da Assembléia e reafirma denúncias sobre o uso do aparato de segurança do Estado para espionar e chantagear adversários. Paiani diz que a governadora teve conhecimento da existência de um CD com escutas ilegais obtidas através do sistema Guardião. Entre outras coisas, as gravações mostram o chefe de gabinete de Yeda, Ricardo Lied, confessando os crimes de violação de sigilo funcional e tráfico de influência.
Repete-se agora o mesmo “modus operandi”, mais uma vez no Detran. A figura do guincho fornece uma boa metáfora do presente do governo tucano. E talvez de seu futuro.
por Marco Aurélio Weissheimer
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