sexta-feira, 31 de julho de 2009

SAGRADOCORAÇÃO.GOV.RS

A bala perdida de Otaviano
Jul 31st, 2009
by Marco Aurélio Weissheimer.

Com o perdão de Cecília Meireles*, do governo Yeda, pode-se dizer:

“..ética, essa palavra
que o discurso oficial alimenta,
mas que não há ninguém que pratique
e ninguém que dela entenda…”


De emails, gravações, torpedos, denúncias, suspeitas e confissões – tudo muito sórdido - vamos vivendo no Rio Grande do Sul em tempos tucanos. Não passa dia, por vezes hora, sem que surja, contra o governo Yeda, alguma revelação. Aqueles que, para não assinar a CPI da Corrupção, pediam fatos novos, necessariamente terão de arranjar outras desculpas porque só na semana que termina, uma meia dúzia deles veio à tona.

O mais recente é um email que mistura desabafo e confissão enviado pelo ex-secretário estadual de Meio Ambiente e de Transparência de Yeda, Otaviano Brenner de Moraes ao jornalista Flávio Tavares. Diz o ex-secretátrio que enquanto esteve no governo, não conseguiu salvaguardar a transparência e a probidade porque encontrou dificuldades “devido à falta de compreensão, no coração do governo, da essencialidade ética de determinadas decisões”.

Certas coisas (a ditadura, por exemplo) a gente precisa lembrar sempre para que nunca mais aconteçam. É o caso da mensagem de Otaviano, até ontem, um dos homens-fortes do governo Yeda. Taí, então, inteiro, o parágrafo enviado por ele ao jornalista:

“…na Transparência e Probidade Administrativa, o desafio foi o de implantar uma Secretaria que se diferencia das demais. Com a missão legal de articular o controle interno e promover a transparência nos assuntos pertinentes à defesa do patrimônio público, da moralidade, da impessoalidade, da eficiência e da publicidade dos atos da administração pública, suas atribuições não são de realizar a ação administrativa material (construir a estrada, fornecer a vacina, ministrar a aula, abrir uma licitação, elaborar o orçamento etc), mas de salvaguardar os valores éticos da transparência e probidade que lhe devem ser subjacentes. Aí a enorme dificuldade que lamentavelmente não consegui superar devido à falta de compreensão, no coração do governo, da essencialidade ética de determinadas decisões”.

Há muita semelhança entre esta fala de Otaviano e o que disse Mercedes Rodrigues, sua antecessora na Secretaria de Transparência. A diferença é que Mercedes disparou contra o governo assim que deixou o cargo. No caso de Otaviano, o email ao jornalista 20 dias depois da demissão é uma bala perdida. Mas que atinge diretamente o governo.

E a propósito: se esta administração fosse um corpo, e o primeiro escalão seus órgãos principais, quem seria o coração? Não cabe dúvida sobre o cérebro porque este, até as cortinas do Piratini já sabem que não existe. (Maneco)

* “…Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda…”


(Cecília Meireles - Romanceiro da Inconfidência)


Andrea Bocelli - Ave Maria (Schubert)

NOTA: Escolha do intérprete é sugestão de livro de cabeceira, “Ensaio sobre a Cegueira” de Saramago

Nenhum comentário: