domingo, 4 de outubro de 2009



Vamos a algumas considerações sobre o caso do furto das provas do ENEM, a partir do que saiu hoje nos jornais.

Primeiro, as conclusões. Depois, o raciocínio por trás delas:

A probabilidade maior foi a de uma operação política. O pedido de dinheiro foi despiste.

Quem atuou foi uma quadrilha organizada, que procurou dois veículos não estigmatizados por dossiês – Estadão e Record – para passar o furo.

Dois trombadinhas-laranja foram escalados para oferecer o material para a Folha no mesmo momento. Mas foi uma óbvia manobra de despiste.

Os bandidos deixaram claro que o sigilo de fonte era a maior garantia de impunidade para essas jogadas, reafirmando aquilo que detalhei à exaustão em “O Caso de Veja”: todo esquema de quadrilha especializada em dossiês tem, na ponta, a contraparte jornalística.

Foi uma operação paulistana, não brasiliense, embora não se descarte a possibilidade dos bandidos terem vindo de Brasília.

Vamos ao detalhamento, a partir das matérias publicadas (
clique aqui).

1. Há duas maneiras de se fazer dinheiro com o ENEM. O usual – conhecido por esquemas que fraudam provas de vestibulares – é vender para cursinhos ou pais de aluno. É mais rentável mas supõe um esquema prévio armado. O outro modo é explorar politicamente o episódio. E, aí, há duas hipóteses a serem investigadas. Ou o esquema pretendia dinheiro oferecendo o dossiê a jornais (com o intuito de criar escândalos políticos) ou atuava a serviço de alguma organização política.

2. Na explicação dos bandidos aos repórteres do Estadão, fica claro que a melhor maneira de gerar escândalos criminosos é em parceria com veículos propagadores de dossiês (não é o caso do Estadão). Eles dizem claramente que o sigilo de fonte garante a impunidade, razão para não terem procurado o PSDB. Pode ser uma tentativa algo canhestra de explicar porque procuraram o jornal; pode ser uma tentativa de despiste.

3. Três veículos foram procurados: Estadão, Record e, pelo que se sabe hoje pela leitura dos jornais, a própria Folha. Os que procuraram o Estado e a Record (não se sabe se são os mesmos) tinham claro conhecimento de fontes especializadas, sabiam das implicações políticas do caso e “adoçaram” a boca dos jornalistas acentuando que o caso poderia derrubar Ministros ou procurando legitimar o vazamento com toques moralistas. Os que procuraram a Folha precisaram se valer de um dono de pizzaria para conseguir o telefone do jornal.

4. O objetivo final era obviamente o Estadão ou a Record, mas por qual razão? Uma possibilidade seria o fato de ambos não terem se queimado com armações e dossiês falsos. Outra possibilidade é que as duas portas óbvias – Folha e Veja - estavam impedidas de serem acionadas. A Folha devido ao fato de controlar a Gráfica Plural (que recebeu a gigantesca encomenda do MEC de imprimir as provas); a Veja pelo fato da Abril ser grande fornecedora do Ministério da Educação.

5. Qual a intenção de colocar dois trombadinhas para procurar a Folha, então? Uma possibilidade (não a única) é de despiste, soltar penas ao vento para dificultar o trabalho da Polícia Federal, ou colocá-la no encalço de trombadinhas-laranja desviando o foco dos verdadeiros autores.

6. Foi uma manobra paulistana, não se tenha dúvida. No caso da Record e do Estadão, havia uma posição dos bandidos em, sempre, colocar Brasília como fonte do vazamento. Eram os filhos de deputados, ora o delegado da Polícia Federal, ora o funcionário do INEP. Ora, há todo um mercado de dossiês já estruturado em Brasília, em torno de sucursais ou dos próprios jornais locais. Uma possibilidade é que tenham atuado em São Paulo para fugir dos esquemas marcados em Brasília. Mas, sendo assim, a troco de quê a insistência em jogar os holofotes sobre supostas fontes brasilienses? Típica manobra de despiste: a operação foi paulistana, reforçada pelo fato de que o material que os repórteres do Estadão viram já eram provas impressas, e o INEP tinha apenas o print das questões em seus cofres.

FONTE: Luis Nassif

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