sábado, 23 de novembro de 2013

A ilha





Texto de Fernando Brito do Tijolaço:


Escrevo porque é impossível ficar calado diante do espetáculo dantesco a que estamos assistindo.

Ver mais alta Corte brasileira transformada em palco de mesquinharias, vaidades e crueldades desumanidades é impensável, para nós, que lutamos pelo restabelecimento de sua grandeza no Estado de Direito.

Joaquim Barbosa transformou-se num imperador inclemente, que exerce seu cargo sem grandeza.

E que apequena a todos os ministros, porque vemos reduzidos ao silêncio os seus pares que, como o nome indica, não poderiam se omitir. Alegar, apenas, que é sob o comando da presidência do STF que se encontra a execução da pena dos condenados da Ação Penal 470 não os absolve deste papel, pois o dever de preservar a Justiça se reparte igualmente entre todos.

Nem mesmo durante a ditadura a nossa Corte Suprema acovardou-se como agora.

Victor Nunes, Hermes Lima e Evandro Lins e Silva, cassados, ficaram como tributo à virtude de um Tribunal onde remanesceu o pior dos vícios judiciais: a covardia.

O poder das baionetas, porém, acovardou-o menos que o poder incontrastável de uma mídia uníssona e tomada do ódio mais irracional.

Os jornais brasileiros tornaram-se uma espécie de República do Galeão, aquela onde a única lei e a única ordem era transformar Getúlio Vargas num criminoso.

O cinismo de todos eles é tanto que são incapazes sequer de falar sobre a correria da captura, desatada num feriado, para alguns dos réus, enquanto os demais, na mesma condição jurídica, permanecem uma semana à espera que Sua Excelência determine-lhes o mesmo que aos outros réus despachou sobre a perna.

De igual forma, a demora em atender uma situação evidente de perigo físico para José Genoino torna evidente quanto apequena o cargo a atitude de Joaquim Barbosa.

Ou melhor, o quanto Barbosa faz a Presidência do STF caber numa capa miúda, como seria a de beleguim do Tribunal da Mídia, esta possuída pelo espírito de Roberto Jefferson, despertos seus instintos mais primitivos.

Javert, de Os Miseráveis, foi-lhe indevidamente comparado outro dia, em um blog. Não! Em Javert, o Estado perseguidor não apagou nele o ser capaz do gesto final de humanidade com Jean Valjean, atirando a si mesmo nas águas do Sena.

Não se sugere, em absoluto, o mesmo para Barbosa, nas águas de Key West, na Flórida, a Paris dos sem-luz de hoje.

Os dias farão melhor, porque o que se constrói com a histeria desfaz-se e evapora na serenidade.

Joaquim Barbosa nem mesmo é um Lacerda de toga.

A imagem do morcego, cego e incapaz de viver sem o abrigo da caverna da escuridão, cai-lhe melhor que a de Corvo.






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