terça-feira, 13 de abril de 2010

CRIA CORVOS


Eliakim Araújo e o corvo da rua Chile

Política| 12/04/2010

por Eliakim Araújo, do Direto da Redação, via Carta Maior, via Vi O Mundo.

Emir Sader, colunista da Carta Maior, foi muito feliz ao criar o prêmio “O Corvo do Ano 2010”, numa homenagem ao jornalista Carlos Lacerda, extremado lider golpista dos anos cinquenta – e parte dos sessenta – que soube usar como ninguém a mídia da época e aliou-se aos militares para derrubar governos democráticos. Sader lembra que nos tempos modernos há jornalistas e colunistas que seguem a cartilha lacerdista e promovem abertamente o golpe de estado contra as instituições democráticas em frontal desrespeito à vontade popular, usando o espaço que lhes é concedido por empresas midiáticas que comungam os mesmos pontos de vista.

Sader deu o pontapé inicial e arriscou o nome de Otavio Frias Filho, “pela “ditabranda”, pelas acusações falsas, pelo silêncio sobre o que não lhe agrada”. E deixou a critério dos leitores a indicações de nomes dentre os quais o mais votado fará jus ao prêmio.

Neste domingo eram 216 mensagens de leitores indicando nomes para a premiação. Tantos que a gente até pode pensar que eles são maioria. Numa rápida passada de olhos, observei que os nomes que mais aparecem são os de Jabor, Boris e Mainardi. Nomes que dispensam apresentação. Com certeza, qualquer um deles presidiria “maxima cum laude” o Partido da Imprensa Golpista (PIG), a criação do Paulo Henrique Amorim que é um verdadeiro achado, sobretudo depois que a presidente da Associação Nacional de Jornais, Judith Brito, confirmou recentemente em alto e bom som que “na situação atual, em que os partidos de oposição estão muito fracos, cabe a nós dos jornais exercer o papel dos partidos, por isso estamos fazendo”.

Mas voltando ao prêmio “Corvo do Ano” é preciso destacar que nenhum dos jornalistas dos tempos modernos chega aos pés de Carlos Lacerda, um traidor convicto mas dotado de rara capacidade de polemizar. Ganhou a eleição para governador do recém criado Estado da Guanabara, em 1959, numa disputa acirrada com Sergio Magalhães e Tenorio Cavalcanti. Naquele ano, eu tive o privilégio de, quase aluno da Faculdade Nacional de Direito, estar presente no dia em que Lacerda debateria com os estudantes do CACO (Centro Acadêmico Cândido de Oliveira).

Aqui é bom explicar que o prédio da FND, no Campo de Santana, no Rio, tem história. Ali funcionou a primeira sede do Senado da República (1826 a 1924) e, talvez por esse motivo, havia regras específicas para o uso salão nobre, que só era aberto para ministros de Estado ou para o presidente da república. Palestras ou debates com outras personalidades eram realizados em um anfiteatro no terceiro andar. Assim foi com Tenório e Sergio.

Com Lacerda, entretanto, não foi assim. Lacerda era tipicamente aquela figura contraditória, amada ou odiada. Naquele ano, a direita, através da Aliança Libertadora Acadêmica, embora estivesse no poder no CACO, estava enfraquecida e sua derrota na próxima eleição era previsível. A maioria dos alunos votaria com o Movimento de Reforma, como de fato aconteceu em outubro do ano seguinte. Portanto, naquele ano eleitoral os progressistas, que repudiavam o golpismo representado por Larcerda, eram maioria. E aí deu-se uma passagem histórica que eu tive o privilégio de testemunhar.

Uma hora antes da chegada do Corvo, o apelido de Lacerda, líderes do Movimento de Reforma se reuniram numa sala fechada para examinar duas propostas: se impediam a entrada de Lacerda no chamado “território livre da FND”, o que certamente redundaria em pancadaria, pois Lacerda andava cercado por uma tropa de choque composta por lutadores, ou se permitiam sua entrada para o debate com estudantes. Não estou certo quanto ao número de presentes nessa reunião, mas sei que por um voto de diferença venceu a proposta de que ele deveria entrar e enfrentar o debate.

Ocorre que o anfiteatro ficou pequeno para receber a multidão que queria aplaudir ou vaiar Lacerda. A diretoria viu-se então obrigada a transferir o debate para o salão nobre, onde Lacerda não conseguiu falar, porque quando lá chegou o auditório já estava tomado pelos alunos que portavem cartazes e gritavam em coro “ladrão da rua Chile”, numa referência à Avenida Chile que seria aberta no centro do Rio e para a qual seria transferido o jornal de Lacerda, Tribuna da Imprensa, o que lhe renderia uma compensação financeira milionária que a Prefeitura lhe pagaria.

O resto é fácil de deduzir. O pau quebrou entre alunos e a tropa de choque lacerdista em pleno salão nobre do que foi outrora o primeiro Senado brasileiro onde Rui Barbosa brilhou. Lacerda ganhou a eleição e tornou-se o primeiro governador do Estado da Guanabara, que durou apenas 16 anos, de 1960 a 1975, quando foi incorporado ao Estado do Rio de Janeiro.

Bem, depois dessa divagação histórica, é hora de voltar ao blog do Emir Sader e indicar o seu candidato ao prêmio “Corvo do Ano 2010”. Copie o link abaixo em sua URL e participe.

* Eliakim Araújo é editor do site Direto da Redação

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