Já se tornou uma máxima do discurso político pasteurizado e embalado por marqueteiros dizer que o negócio é seguir em frente e não olhar para trás. O pressuposto é que essa idéia seja do agrado do senso comum e da média dos eleitores, que teriam uma alergia crônica em relação ao passado e à memória. A candidata à prefeitura de Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB), repete essa ladainha em entrevista hoje ao jornal Zero Hora. Indagada sobre a presença de aliados políticos do ex-governador Antônio Britto em sua chapa, a candidata afirmou: “Eu vivo em 2008, ando para frente e não olho para trás”. Foi mais longe e emendou: “Quando o PMDB governou o Estado (1995-1998) eu ainda não votava”.
É constrangedor ver esses "argumentos” serem proferidos por representantes de partidos de esquerda. O desprezo pelo passado e pela memória, diga-se a bem da verdade, é uma praga que viceja hoje em vários partidos (inclusive o PT). Em nome do pragmatismo eleitoral mais rastaquera, repete-se essa tolice como se fosse uma pérola de sabedoria. O que, afinal de contas, significa dizer, com orgulho: “eu não olho para trás”? Pior ainda, o que significa para alguém de esquerda dizer isso? Entre outras coisas, significa desprezo pela memória, pelo passado e pela história. Apresentar a idéia de “seguir na vida sem olhar para trás” como uma espécie de filosofia de vida e de regra de conduta política é algo muito menos inocente do pode parecer. Quem vive só olhando para frente e não olhando para trás não tem compromisso com a experiência e com a história, apenas com o próprio umbigo.
O PC do B pode justificar a aliança com o PPS em Porto Alegre com argumentos menos constrangedores. Basta dizer (como vem fazendo em alguns momentos) que o PT faz alianças com o mesmo partido em outros lugares. Não precisa jogar a memória na lata do lixo. Na verdade, é um argumento igualmente frágil, pois está baseado na idéia de que um erro justifica outro, mas, ao menos, revela alguma consideração pela história. O PT já cometeu muitos erros em sua história. Um deles foi namorar com a máxima que prega: “para derrotar o inimigo é preciso usar suas próprias armas”. O problema da aplicação desta máxima é que, quando se usa as mesmas táticas e práticas do inimigo, corre-se o sério risco de ficar parecido com o adversário. Essa história é bem conhecida. Seus resultados também.
Com todo o respeito que merece, Manuela D´Ávila poderia aplicar ao seu próprio discurso sua proposta de “Diálogo de Gerações”, que prega o respeito e a valorização da experiência e do passado como uma condição necessária para olhar o presente e o futuro.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Massimo Bucchi aviva minha memória...
Marco Aurélio Weissheimer
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